17 de março de 2017

casa

Ao fim do dia, quando o cansaço já fala mais alto que tudo, só queremos ir para o nosso refúgio, e até há bem pouco tempo achei que o meu tinha quatro paredes, a minha cama, e as minhas melhores memórias coladas na parede. 

O quarto foi escolhido a dedo, e não é assim que as casas devem ser? Escolhidas a dedo por nós e para nós. Escolhi cinzento porque não é uma cor nem demasiado clara nem demasiado escura, e o equilíbrio é sempre algo bom, mesmo que não o tenha sempre presente na minha vida. Os pormenores rosa e branco são "a minha cara" e todos os que lá entram dizem o mesmo. As dezenas de fotografias contam as melhores histórias da minha vida, os melhores momentos e as melhores pessoas que já se cruzaram comigo, 

O quarto não tem janela para o exterior, a única janela tem acesso ao interior da casa, acaba por parecer um circulo sem fim que retrata muito bem a realidade, quando nos nossos problemas tentamos refugiar-nos em algo e qualquer saída nos levará ao problema que não resolvemos ainda. E isso sem dúvida acontecia quando a minha avó me mandava fazer algo e eu não fazia. Eu não tinha saída, por onde quer que saísse o problema estava lá. A minha avó ia continuar a gritar o meu nome, mesmo que ela tivesse que entrar pela janela do quarto. (e esse era o menor problema para ela, acreditem) 

Quando comecei a fazer a mala de viajem para Barcelona, eu literalmente queria dobrar o meu quarto em várias partes, guardá-lo na mala, trazer para a nova morada dando-lhe ainda uma experiência incrível de avião, desdobrá-lo e aqui estaria ele. Mas não é mesmo assim. Então dei por mim com uma mala cheia,  um quarto vazio, e a maior dor no peito.

Mas não tão grande como quando tive que regressar aquele sítio. 

Depois de um mês e alguns dias voltei a Portugal, ao meu quarto, que de "meu" não parecia ter nada. 

Estava vazio.
 
Então percebo que não importa. Não importa que não hajam fotografias na parede quando tudo o que elas retratavam está eternizado da memória de quem esteve presente. Não importa que não existam pormenores rosa e brancos para serem "a minha cara" se quando alguém se voltar a encontrar comigo poder dizer que esta sou eu. 

E esta sou eu. Eu que pensei que o meu coração não poderia ser mais grato do que já era. Mas ele pode. Gratidão não tem limite. E vem sempre acompanhada de muito Amor. Esta sou eu, imensamente grata por tudo o que estou a viver. Por cada pessoa que estou a conhecer. Por cada vez que me dizem que "sou diferente" e eu ainda fico sem entender. Porque talvez a diferença está em olhar e entender tudo da forma mais humilde e sincera possível. Porque quatro paredes não fazem uma casa, nós fazemos. Escolhemos quem somos. Por nós e para nós. E o melhor? Isso tem sempre impacto nos outros. 

Se eu quiser refletir quem quero ser num quarto, se eu quiser encher o meu quarto de amor? Não tem mal. Mas é bem melhor refletir quem quero ser em mim mesma, encher-me de Amor. Para que outros usufruam de isso também. 

E não importa para onde iremos, essa casa nunca estará vazia. 

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