23 de julho de 2014

Tudo misturado e da pior maneira

Eu podia dizer que eu sei exactamente por onde começar este texto. Mas a verdade é que eu não sei.
Simplesmente eu não sei. É muita coisa que do nada decidiu vir para cima. Acho que pela primeira vez eu discuti aqui em casa desta maneira. A primeira vez que gritei com a minha avó, e discuti com ela. Não é algo que me agrade. Não é algo de que queria mesmo muito falar. Mas se não for aqui, não sei onde será.

Hoje eu dormi apenas três horas. A minha cabeça está dorida. Dói bastante, dói como se me estivessem a bater com martelos, como se a cabeça quisesse explodir de vez.  Aproveitei a hora que a minha avó saiu de casa ás sete e vinte e deitei-me, ás dez da manhã levantei-me após ouvir o telemóvel tocar sensivelmente vinte vezes , fui tomar um banho, vesti-me , comi e conversei com quem me tinha acompanhado toda a noite, aquela pessoa que tem realmente paciência para mim e que amo demais. Estava pronta para sair de casa e ir ao encontro do meu local de estágio, que já terminou, ia hoje receber a avaliação final, o grande feed-back, tão esperado. Encontrei-me denovo com a minha acompanhante e esta pediu-me que eu me sentasse para me fazer um convite. Pensei que me iria convidar para ir a casa dela, para um almoço, ou um jantar, embora fosse uma das maiores loucura....mas superou tudo isto. Um convite para trabalhar na empresa. Foi a melhor coisa que me poderia ter acontecido, a melhor coisa que poderia ter ouvido. Passar de uma mera estagiária a uma colaboradora de uma multi-nacional onde apenas são permitidas pessoas acima de 18 anos. Eu fui convidada. Com 16 anos. A minha cara dizia tudo, um grande sim. E em Setembro uma nova aventura irá começar. Apetecia-me sair dali e gritar para todo o mundo que eu tinha conseguido um dos meus maiores objectivos. Ás cinco da tarde começou a reunião com a acompanhante da escola e da empresa, tudo dentro do normal.

voltei para casa.

Assim que consegui liguei para a minha mãe e contei-lhe a grande novidade de ter conseguido o meu primeiro emprego.  ela não se mostrou tão contente assim, na verdade ela parecia preocupada. mas fiquei irritada no momento, afinal era uma das minhas maiores conquistas e ela não estava contente por mim (pelo menos não aparentava isso)  . a conversa foi curta, pois ela ainda trabalhava e eu realmente não estava com vontade de conversar mais com ela.

(...)

Eu não sei que horas eram, não olhei para o relógio, porque isso nem tinha a menor importância. era a minha mãe, mas desta vez a conversa foi diferente. Telefonou-me para saber como seriam os futuros pagamentos da escola, que meses não se pagavam e coisas do género, foi então que lhe contei o que o meu tio me havia falado. Para o ano todas as responsabilidades que ele teria sobre mim, vão ser passadas para mim mesma. Todo o dinheiro que a minha mãe iria enviar seria retirado do banco e entregue nas minhas mãos para eu mesma resolver todos os problemas que tinha que resolver, como o pagamento da escola , o pagamento da acrobática, pagamento do passe, e pouco mais porque o dinheiro nem é suficiente. a minha mãe ficou espantada. E eu pude ver o quão preocupada ela estava, podia senti-lo na sua voz. isso não era certo. Quando eu decidi morar aqui na capital todos se mostraram super dispostos a ajudar-me nesta nova etapa, e a orientar-me, mas agora acho que já se esqueceram um pouco disso, um pouco ou tudo. Eu sei que muita coisa aconteceu este ano, como por exemplo a saída do meu tio aqui de casa. Houve momento que eu o considerei um pai, uma pessoa protectora, que realmente se preocupava comigo e eu não posso dizer que estava errada. mas sim que ele mudou. Desde aí as coisas complicaram-se cada vez mais
Eu considero-me uma boa pessoa, mas não acho que tenha muita paciência e conviver com os meus avós diariamente é verdadeiramente complicado. e agora as coisas só pioraram ainda mais. Não me lembro quantas vezes ele foi a reuniões minhas. ou quantas vezes se preocupou com as minhas notas, com os sucessos que tinha na escola, com os meus problemas. eu ainda não consegui encontrar um familiar que fosse realmente ligado a mim. eu poderia até tentar dizer que essa pessoa é a minha mãe, mas não. nunca fomos ligadas, infelizmente, nunca. mas esse é outro assunto em que nem quero tocar ou então as lágrimas que já me caiem pelo rosto vão duplicar-se.
Mas voltando ao telefonema da minha mãe, eu acho que nunca a havia visto tão preocupada comigo (ou talvez eu nunca tivesse ligado verdadeiramente a isso) . Ela tocou em todos os assuntos, e revoltou-se com várias coisas, até porque ultimamente só se têm queixado de mim por aqui, o que me irrita profundo pois eu sei os erros que cometo mas eu sei o que faço de bom também.
Agora eu entendera porque ela nao estava tao contente quando lhe falei do novo emprego, afinal nem eu estava mais contente. De repente vi o mundo virar, cheio de obrigações que cairam de pára-quedas em mim.

A ideia da minha mãe é que eu vá viver para casa do meu pai e que ele seja meu encarregado de educação, afinal é uma das obrigações dele.
Eu não quero isso. Sou muito sincera. Eu não quero. Eu amo o meu pai mas sei que lá não será o melhor lugar para mim. Talvez eu tenha medo de mais uma mudança. Talvez seja isso... mas a verdade é que não me sinto nada bem quando me surge essa ideia na cabeça.

Como vou conseguir estudar, trabalhar e continuar na acrobática. Muitos podem achar simples desistir da acrobática, afinal é a menor obrigação, mas não é tão simples assim. É o único lugar onde consigo distrair-me, deixar os problemas de lado e fazer algo que realmente gosto. Eu não sei e tenho realmente muito medo disso, talvez a minha mãe tenha pensado nisso desde o primeiro momento que lhe falei do emprego, as mães são assim sofrem primeiro que nós, e eu tenho pena de não ter dado conta logo de começo.
Eu tenho medo que as coisas não dêm certo, que eu cometa várias falhas, que não consiga superar os meus objectivos, que aumentam cada vez mais....

Eu tenho pena que o meu tio tenha mudado, tenho pena que não seja mais a pessoa que conhecia e tenho pena que tudo isso apenas influencie o meu dia a dia.
Eu não queria voltar atrás e mudar nada. Eu queria mesmo conseguir mudar o que aí vem ...

"Vamos! Coragem! Você pode! Você é capaz! Supere-se!
A razão da sua vida é você mesmo!"
Luiz Carlos Mazzini