24 de dezembro de 2015

Eu não consegui. (Carta para Jesus)


Jesus, 

Sinto que mais uma vez não consegui. 

Eu queria fazer tantas coisas e eu não consegui.

Jesus, desculpa se falhei. "Se" não, eu sei que falhei. Então perdoa-me. 

Sinto que, à semelhança do Natal passado, este Natal eu quis vivê-lo só eu e Tu. Ainda é muito complicado para mim partilhar-te com eles. Eu sei que eles precisam, e que é o meu dever, desculpa. Eu não consigo. 

Mas tenta compreender-me, é algo tão grande que eu não consigo dizê-lo de qualquer forma. Eu sei, eu sei, tenho que tornar tudo mais simples, porque Tu mesmo nos pedes tão pouco, merecendo tanto mais. 

Eu queria ter impedido aqueles dois pais natais lá em casa, eles de nada servem, são meras ilusões na cabeça das crianças da família, desculpa ter deixado que te substituíssem, desculpa ter-me calado. Ele só aparecem neste dia e parece que todos o amam, e sabes porquê? Porque trazem presentes embrulhados com laços enormes. E ninguém percebe que o nosso maior presente não veio embrulhado, mas veio da forma mais humilde. Mas Jesus, não poderias ter nascido de uma forma tão mais grandiosa? Eu não consigo entender, nós não merecemos nada do que fizeste por nós. Torna-se tudo mais complicado assim. 

Como vou explicar à minha família a imagem de um Deus de fraldas? Como é que lhes vou explicar que o Deus do universo, criador de tudo e todos, sujeitou-se a descer como um frágil bebé, filho de gente simples. O Rei dos reis, agora era um morador no meio do nada, sem direito a berço e nem um parto digno. Um pequeno bebé era tudo o que Deus tinha para enviar? Como assim? Um Deus limitado às necessidades de fome, sede e frio? Um Deus que se fez depender do seio de uma mulher para se alimentar? Isso era mesmo tudo o que Deus tinha para revelar o Seu amor? A loucura de um Deus que se resumiu a um ser “borrador de fraldas”, causa em nós o maior efeito de amor que pode existir. Aquele menino não era qualquer um. Mas eu mantenho a minha pergunta. Como vou explicar isto à minha família? 

Desculpa, eu calei-me. E deixei que tudo isto fosse substituído por dois pais natais com dois sacos cheios de presentes embrulhados, que arrancaram sorrisos às crianças. Senti-me inútil. 

Eu queria ter orado antes da nossa refeição. Eu queria ter-te agradecido em voz alta por cada prato de comida, por tudo. Em vez disso, houve stress e cada um começou a comer quando quis. Sem nem desejar um "bom apetite". Desculpa. 

Jesus, a única vez que falei do teu amor nesta noite foi a caminho de casa, e não consegui transmitir quase nada. Desculpa. 

Eu sei que não adianta de nada eu escrever-te isto, se fora eu só quero viver um Natal eu e Tu. Sem passar este amor tão grande a outros. Na verdade não é a outros, mas é especificamente à minha família. Desculpa. 

Amanhã vão-se reunir todos denovo. Na minha casa. E sabes? Eu tenho medo! De falhar denovo. Tu nunca me falhaste. Nunca vi ninguém tão fiel. E se eu falhar? Novamente me perdoarás, mas não é justo. Eu sou tão falha, enrolo-me no meu medo e deixo-me calar. Deixo de falar do maior amor que já existiu em todo o universo, e deixo que a minha familia viva um Natal de ilusão. 

Ajuda-me, ajuda-me a falar de Ti, e não calar-me jamais.
Ajuda-me a ser uma filha digna do Teu amor!
Por favor Jesus, 


Amén!