29 de julho de 2018

my sunshine


23:07. E só agora decidi escrever alguma coisa. 

É tão confuso olhar para trás e conseguir alinhar tudo, encontrar uma linha de raciocínio, tentar encaixar tudo e perceber como é que viemos aqui parar. Não consigo. Nunca vou compreender. Talvez nem queira. Para ser sincera já tentei, e podemos fazê-lo juntas... vejamos... Através do facebook: uma rede social onde a probabilidade de encontrar alguém com quem possas conversar é um bocadinho menor do que a de encontrar um pedófilo. Não te conhecia, nunca tinha ouvido o teu nome. Não sabia que tinhas uma cadela génio. Não seguia nenhuma página de cães. Apareceu-me uma publicação da Luna no feed. Improvável. Mas possível. Aliás, totalmente possível quando se trata apenas de fazer acontecer o propósito de Quem tudo controla. 

Eu não estava bem. Tinha passado semanas a pensar como seria se simplesmente não fosse. Se eu não fosse. Se não existisse. Ou na hipótese mais próxima, se deixasse de ser. Na falta de coragem sobram-nos noites que parecem eternas. Sobram-nos dores de cabeça, olhos esbugalhados e um corpo exausto. Preparado para uma única coisa: desistir

E um Pai que conhece a sua filha, sabe que a única coisa que me faria não desistir de mim mesma era ter alguém por (e com!) quem lutar. 

Mas encontrei em ti muito mais do que isso. E hoje provavelmente estou só a utilizar o teu aniversário como pretexto para te poder dizer tudo isto. 
Entendo perfeitamente quando me dizes que não te sentes merecedora. Eu também não. Talvez não sejamos mesmo. Mas é a consciência disso mesmo que nos faz permanecer no equilíbrio certo. É a consciência de que ambas estávamos longe do Pai que nos empurra diariamente para os Seus braços. É uma caminhada constante. Descalças, num chão que corta ou escorrega. Ás vezes às cegas. Mas nunca sozinhas. 

Nunca te esqueças do valor imenso que tens. Nunca te esqueças de onde vieste para que isso te ajude a caminhar com força até onde queres ir. Nunca te percas na imensidão de pensamentos que podemos acumular em silêncio. Lembra-te sempre que foste pensada antes de existir e cada segundo da tua existência é sustentado pelo sopro de vida do Criador. Esta é a tua certeza: absurdamente amada e desejada pelo Pai de todas as coisas. 

Nós já éramos dEle. Não é questionável. Mas não éramos de nós. Não éramos uma da outra. E ás vezes é preciso perderes-te para te poderes realmente encontrar.

E perder-me nunca valeu tanto a pena. 

Parabéns. Pela pessoa incrível que és. Por lutares diariamente pelo respeito e igualdade de todos. Por levantares a voz e assumires papeis que poucos têm coragem. 

Obrigada. Por mudares a minha rotina. Por encheres a memória do meu whatsapp. Por me acolheres em tua casa. Por me acolheres no teu coração. Por me aceitares, tal e qual como sou. Por me fazeres acreditar que não há erro nenhum. 

Obrigada por me salvares do que já não era eu. 

Amo-te. E isto é só o começo.  

29 de janeiro de 2018

ela e nós

Gostaria de ter feito este texto ontem. Mas depois fiquei consciente de que, para mim, não é a meia-noite que torna o texto especial ou com maior efeito: é o que contem nele. É o que vem de um coração para outro, através de palavras. É o facto de que te estou a escrever isto, para o teu aniversário, mas que o escreveria em qualquer altura, dia e meia-noite do ano. Todos os momentos são perfeitos para te dizer tudo o sinto, para te mostrar o quanto és especial.

Há um ano atrás eu estava noutro país. Acabava de começar uma aventura que iria durar seis meses. E a desmotivação já se levantava comigo. Conhecer-te tornou-se o meu maior desafio e vontade de haver um novo dia. Acordar ás nove da manhã mas saber que ás nove da noite te ia ver, te ia ouvir. Mudava tudo. E aqui estava prestes a começar tudo o que viria de nós. Vieram muitas videochamadas em skype. Longas. Em muitas delas disseste-me que eu não ia gostar de conhecer-te verdadeiramente. Um ano depois, estamos aqui. E garanto-te. Foi a minha melhor decisão. E se ainda não sabes: eu gosto de te conhecer. Eu gosto de continuar a descobrir-te. É provável que não te lembres de muitas das nossas conversas. E talvez eu só me lembre tão bem porque as tenho gravadas. Mas há algumas, que um ano depois merecem ser partilhadas. 

(M) "Eu ás vezes só não te consigo compreender. Mas dependendo da pessoa eu tento entender, ou não. E há pessoas que tu vais sempre querer tentar entender" 
(L) "E porque é que eu sou uma dessas pessoas?"
(M) "Eu não sei..."

Um ano depois. Eu ainda não sei. E provavelmente nunca saberei. Mas és. E eu não quero que deixes de ser. Eu não consigo pensar que tens dezassete anos. Que tinhas dezasseis durante toda esta caminhada. Não cabe no meu entendimento. A forma como levaste tudo isto. A forma como lidaste com as tuas e as minhas decisões. 

(L) Não te apegues demasiado
(M) Sou péssima nisso 

Um ano depois. Só tenho a certeza de que realmente sou péssima. E agora tu partilhas a mesma certeza. Talvez isto era para ser um aviso. Obrigada. Mas não o consegui levar muito em consideração. 

Nunca conheci ninguém como tu. Duvido que vá conhecer. E tantas vezes sinto que não te mereço (muitas pessoas iriam concordar com esta frase). Sinto que Deus me deu mais do que merecia em muitos momentos. Sinto que Deus foi demasiado generoso em colocar-te na minha vida. Eu amo o desafio de tentar cuidar de ti, mas muitas vezes acabar por ser cuidada também. Eu amo o desafio de amar pessoas tão diferentes de mim. Amo o desafio de simplesmente amar pessoas. E contigo eu tenho vivenciado uma dimensão diferente de amor. Do não-limite que existe. 

Não é por parecer bonito que estou a dizer tudo isto. É uma realidade. Errámos muito durante este ano. Mas errámos juntas também. Soubemos dar espaço, voltar e conversar sobre tudo. Ser sinceras. Partilhar tudo o que sentíamos, sem deixar margem de erros. Isso permite-nos muita coisa. Mas, da minha parte, permitiu-me conhecer-te e querer conhecer-te cada vez mais. Permitiu-me olhar para ti de outra forma. Ver uma Laura que poucos conseguem ver. E ainda bem. 

Nem todos merecem a Laura que eu conheço. Talvez nem eu mereça. 

Sou muito grata por te ter. 

Love you, little morcega

[ah]

Parabéns. 

4 de janeiro de 2018

A reflexão dela

Não têm sido momentos fáceis. Não consigo confiar nas pessoas como fazia antes. Não consigo encontrar paz ao desabafar com alguém. Perdi a esperança de que isso possa realmente ajudar. Vivo com a certeza de que ninguém ficará para sempre. De que todos, em algum momento decidem ir embora. Sem justificações. Apenas vão. Eu não consigo. Eu acredito que devemos permanecer até sentir que vale a pena. Mas quando é que não vale? 

Há duas noites atrás, eu e ela tivemos uma daquelas conversas íntimas que revelam muito de quem cada uma é. Falávamos sobre as amizades da escola e de como desaparecem. Confessei-lhe que todas as minhas amizades se foram embora. Até aquelas que eu acreditei que seriam para sempre. Disse-lhe que ela era fria e que acabaria sem ninguém do lado dela. E ela respondeu-me, que eu me preocupo com todos, que me importo, e que todos se foram embora à mesma. E eu calei-me. Porque ela tem razão. 

Não esperei que ela fizesse aquela reflexão rápida. Eu nunca fiz. Ela provavelmente não sabe o quanto aquela frase ainda está a mexer comigo. Porque é que me preocupo tanto em dizer-lhe que deve mudar porque vai acabar sem ninguém? Eu também sinto que acabei. E eu fui tudo aquilo que lhe peço para ela ser. Não lhe volto a pedir. Acredito que ela deve ser quem sentir que realmente é. Eu estou a tentar. Não sei se daqui a uns anos, quem está na minha vida, vai continuar a estar. Pergunto-me agora, então porque é que tentava que eles me amassem mais do que eu mesma me amo? Não sei. Mas sei que eu quero que ela se ame. Tal e qual como ela é. Eu quero que ela ame o interior dela. 

Para mim vai sempre valer a pena estar ao lado de quem amo. Vai sempre valer a pena estar ao lado dela. E se um dia ela decidir ir, tudo bem. Só quero ter a certeza de que ela não está só. De que ela se ama. E de que ela é feliz.  Nunca ninguém teve essa certeza de mim. Nem eu.