9 de janeiro de 2016

Marley


Esse foi o nome que te demos. E que eu gostaria que tivesses até ao teu último suspiro. Já não sei se é possível. 

Levaram-te. Não para outro mundo, mas quase. Longe de mim, é o suficiente para me faltar algo. 

Faltam-me as palavras, já que as lágrimas são mais que muitas. E só elas expressam a dor que sinto neste momento, o vazio. No início pertenciam a este último momento, passado há poucas horas. Quando te colocaram um açaime e tu, sem perceberes o que se passava, achas-te que era uma brincadeira e tentaste tirá-lo da tua boca, e foi aí que percebeste que era tudo, menos uma brincadeira. Enroscaste-te em mim e suplicas-te em silêncio para que não te levassem. Eu entendi e supliquei de forma diferente, com uma voz viva, mas morta ao mesmo tempo, pois de nada valeu. 

Só te posso pedir desculpa. Não consegui impedir que te levassem para dentro do carro e para um lugar desconhecido, com pessoas desconhecidas e com novos "seres" desconhecidos. Desculpa. 

Eu não fui a melhor dona, Estive longe de o ser. E é por isso que sou tão julgada por te defender e por ter ido contra a vontade deles. Mas posso garantir lhes, e não só a eles mas a qualquer pessoa, que te conheço melhor do que ninguém. Eu sei o porquê de todas as tuas travessuras. E eu sei que muito além disso tu tens AMOR para dar e receber. 

Eles podem dizer o que quiseres, eu e tu sabemos. As noites que saí para a rua, e tu adormeces-te ao meu lado, acompanhada de muitos mimos e músicas de fundo. Disso não sabem eles, do amor que só tu sabias dar. As lambidelas agressivas e cheias de vontade que só tu tinhas. 

Mais uma vez, desculpa. Eu podia ter feito tanto. E se fiz algo, foi insuficiente. Ou não estarias tu onde estás agora. Desculpa ter que ser assim. Desculpa teres "caído" numa família onde dizem pensar em ti, mas onde a tua vontade nunca foi ouvida.

Leva contigo o carinho que tiveste, aquele que muitos acham que nunca existiu.

Muitos tiveram uma palavra a dizer sobre isto, mas és tu, que neste momento está a dormir sem saber onde estás. É cruel. Mais cruel pensar que não passas de "algo" que se pode ter e devolver a qualquer momento.

Quando há dificuldades com os humanos o final não é este. E a luta é muito mais renhida. Tu não tiveste sorte. Não falamos a mesma língua, pois se assim fosse, poderias dizer-lhes o quão amorosa és, o quão educada e ensinada sempre foste, e o quão protetora tentaste ser. Ao mais alto nível foste fiel. 

 No fim, eles ficaram com a felicidade, eu com a dor. E tu? O que te restou companheira?



1 comentário:

  1. Um dia, o meu pai meteu a hipótese de levar a minha cadela embora e só por isso chorei a manhã toda, mas acabei por ficar com ela. Às vezes um animal é muito melhor que um humano. É muito mais amigo. Lamento teres ficado sem a tua companheira. Aposto que ela não se esquecerá de ti!

    http://mylittlesecretworld15.blogspot.pt/

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